domingo, 3 de agosto de 2014


As mãos e a areia

A mão enterra-se, aberta, na areia. Cerro-a e levanto-a no ar. A areia escapa-se, miúda, entre dedos, deixando apenas restos. Desde pequeno que me lembro: “não podes segurar areia”. Tonto.
A força da mão aumenta a frustração. Não posso agarrar, nada. Quanto mais força, mais se escapa. Eu, maior que todos os grãos e no entanto….
Se formar a mão em concha ainda seguro alguma areia. Caída, deitada na cova, aconchegada entre os dedos unidos e moles, seguro uma mão de areia.
Ao fim destes anos todos aprendo. Não preciso mais do que a mão segura. A força me dá mais areia, fá-la perder-se. No fim, há sempre areia que se agarra à mão suada.

Talvez o importante seja o que fica, quando nada se faz para o agarrar.

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