As mãos e a areia
A mão enterra-se, aberta, na areia. Cerro-a e levanto-a no
ar. A areia escapa-se, miúda, entre dedos, deixando apenas restos. Desde
pequeno que me lembro: “não podes segurar areia”. Tonto.
A força da mão aumenta a frustração. Não posso agarrar,
nada. Quanto mais força, mais se escapa. Eu, maior que todos os grãos e no
entanto….
Se formar a mão em concha ainda seguro alguma areia. Caída,
deitada na cova, aconchegada entre os dedos unidos e moles, seguro uma mão de
areia.
Ao fim destes anos todos aprendo. Não preciso mais do que a
mão segura. A força me dá mais areia, fá-la perder-se. No fim, há sempre areia
que se agarra à mão suada.
Talvez o importante seja o que fica, quando nada se faz para
o agarrar.
Sem comentários:
Enviar um comentário